Existe uma conexão inextricável entre o ateísmo e a filosofia materialista; eles são como irmãos siameses, impossíveis de separar sem que ambos morram. Qualquer dissonância cognitiva presente em um deles se reflete no outro. Por exemplo, não é possível se considerar ateu sem ser materialista, e vice-versa. Essa relação está fundamentada na filosofia, pois todas as explicações se baseiam em princípios filosóficos. A ciência, embora despreze a filosofia em relação à explicação dos fenômenos naturais, é, na verdade, a filosofia aplicada à experimentação. Da mesma forma, a religião é uma experiência interna submetida à filosofia, e a própria filosofia age como uma ponte entre as experiências internas e as experimentações científicas. Todo esse caminho, desde a mente humana até a compreensão dos fenômenos, é complexo devido às inúmeras variáveis envolvidas no processo de transmissão de informações.
No entanto, essa complexidade é onde reside o grande perigo: acreditar que a confirmação de um pressuposto corresponde automaticamente à verdade. Todo pressuposto é uma crença estabelecida, uma fé que serve como base para a construção de uma tese científica, ou melhor, filosófico-científica, uma vez que não há ciência sem uma filosofia precedente. A mente humana tem uma forte tendência a buscar confirmações para suas crenças. Ela é um gerador de lógica, capaz de reforçar ou destruir uma razão existente, ou até mesmo criar uma razão existencial onde ela não existe. Isso pode levar a proferir inverdades, e apenas aqueles que não estão enredados em crenças preestabelecidas, como as crianças da parábola do rei nu, podem perceber essas inverdades.
Passando para a análise do ateísmo como um falso pressuposto da filosofia materialista, a Filosofia Materialista busca explicar tudo a partir da matéria, acreditando que a causa de todos os fenômenos do universo é material e não admite outra explicação além disso. Segundo Baggine e Dawkins, a maioria dos ateus acredita que todos os fenômenos, incluindo a mente, as emoções, os valores morais, surgem da matéria física.
No entanto, a teoria do Big Bang, que afirma que o universo teve um início há cerca de 14,8 bilhões de anos, coloca um desafio para essa explicação, pois implica que houve um tempo em que não existia matéria e, portanto, a origem do universo não poderia ser explicada somente pela matéria. Isso mostra que nem tudo pode ser explicado cientificamente, pois a ciência trabalha com coisas concretas e fenômenos dentro da existência das coisas, mas não pode abordar questões sobre o porquê de algo existir.
Dawkins afirma que seu livro “Deus: Um Delírio” pode converter leitores religiosos em ateus apenas com a leitura. No entanto, isso é contraditório com a filosofia materialista que ele defende, pois segundo essa visão, os pensamentos e argumentos lógicos não têm poder causativo sobre a matéria e, portanto, não poderiam convencer ninguém a mudar suas crenças. Se os pensamentos e emoções são meros epifenômenos da matéria, eles não teriam o poder de influenciar as escolhas humanas.
O autor desafia Dawkins a explicar se seu ateísmo é resultado de livre arbítrio ou da constituição material do cérebro. Se as ideias e pensamentos têm poder causativo sobre as escolhas, isso implicaria na existência do livre arbítrio, o que entra em conflito com a visão materialista que nega a capacidade humana de escolher livremente.
Em resumo, o texto explora a relação entre o ateísmo e a filosofia materialista, destacando suas conexões e limitações. Ele critica a ideia de que a ciência possa explicar tudo e enfatiza que nem todas as questões podem ser abordadas cientificamente. Além disso, questiona a visão de que os pensamentos e argumentos podem transformar crentes em ateus, dada a natureza determinista da filosofia materialista.
Vamos ao texto:
Existe uma correspondência biunívoca entre o ateísmo e a lógica materialista, são irmãos xifópagos impossível de qualquer separação, sob pena da morte de ambos. Qualquer dissonância cognitiva expressada num, resulta em dissonância cognitiva expressa no outro. Exemplo:- Não pode se dizer ateu, sem se dizer materialista e vice-versa. Entendes por quê? É por conta do fundamento filosófico. Toda explicação é filosófica.
A filosofia é quem explica as coisas. Não é a ciência, como querem os cientistas. Chegam até a desprezar a filosofia como de segunda categoria, no que diz respeito à explicação dos fenômenos da natureza. A ciência é filosofia submetida à experimentação. A religião é experiência interna submetida à filosofia; e própria filosofia representa uma ponte entre as experiências internas e as experimentações científicas.
Primeiro o cientista acredita, tem fé de que tais e tais fenômenos devam se manifestar desta ou daquela maneira (filosofia), daí formam os pressupostos lógicos através dos quais procuram demonstrar suas teorias pela experimentação (ciência). Como se vê: tudo parte da crença filosófica ou da fé religiosa do cientista, para se chegar ao que se denomina ciência.
Entender esse caminho que parte da mente humana, passando pelos condicionamentos geradores da crença e fé das pessoas, até chegar aos extratos explicativos, é tarefa muito difícil porque entre a experiência, a explicação do apreendido dentro da experiência e a compreensão do que se está tentando explicar, não passam de subprodutos de uma gestalt de mui difícil explicação entre transmissor e receptor de informações.
É aí que mora o grande perigo! Quê perigo? O de achar que a confirmação do pressuposto deva inevitavelmente corresponder à verdade. Todo pressuposto é uma crença consolidada, uma fé que serve como ponto de partida para estruturação da tese científica; melhor dizendo: da tese filosófico-científica, porque não existe ciência sem uma filosofia que a preceda. E a mente tem uma enorme tendência à comprovação. Ela é um gerador de lógica que tanto pode detonar uma razão existente, quanto inventar uma razão existencial até mesmo onde ela não existe.
Veremos, nas páginas seguintes, como a filosofia materialista tem sido recalcitrante em admitir inteligência dentro dos mecanismos de evolução utilizados pela natureza para produzir harmonia, beleza, economia, adaptabilidade e sustentabilidade de tudo que existe dentro do Sistema-Mundo. Dito isto, afirmo que o ateísmo é uma falácia e, porque não dizer, uma apologia da burrice, por se basear em falsos pressupostos da filosofia materialista.
Quem me acompanha nesse raciocínio poderá contra-argumentar:- Como pode tantos gênios que se dizem ateus não perceberem isto? Não percebem por conta do enredamento. A coisa mais fácil ao ser humano é se tornar um enredado. Quanto mais genial, mais propenso ao enredamento. Todo gênio usa demais a lógica que gera a fé, que por sua vez, consolida mais a crença na própria crença de que sua lógica é impecavelmente verdadeira. Isto gera um círculo vicioso de condicionamentos e reforços alternados; daí em diante torna-se um enredado, capaz de proferir inverdades que em sua grande maioria, outros enredados nem percebem. É aquela parábola do rei que estava nu e só as crianças percebiam, porque não estavam contaminadas pelos condicionamentos ensinados pelos adultos.
Passemos agora a determinar onde se localiza, como e por que se pode dizer do ateísmo um falso pressuposto da filosofia materialista, como afirmei anteriormente. Chama-se Filosofia Materialista porque ela procura explicar tudo o que existe a partir da matéria. Significa dizer que a causa de todos os fenômenos existentes no universo é material; provém da matéria e não admite qualquer outra explicação que não seja material.
Vejamos o que dizem Baggine e Dawkins sobre ser a matéria a fonte de explicação de tudo: “O que a maioria dos ateus acredita é que embora só haja um tipo de matéria no universo, e é a matéria física, dessa matéria nascem a mente, a beleza, as emoções, os valores morais – em suma, a gama completa de fenômenos que enriquecem a vida humana”. [Baggine, Citado por Dawkins em, Deus: Um Delírio].
Agora, Dawkins, que diz a mesma coisa com outras palavras: […]” Os pensamentos e as emoções humanas emergem de interconexões incrivelmente complexas de entidades físicas dentro do cérebro. Um ateu, nesse sentido filosófico de naturalista, é alguém que acredita que não há nada além do mundo natural e físico” […]. [Dawkins em, Deus: Um Delírio].
Isto era muito mais fácil de defender quando a ciência ainda não havia levantado a tese do Big-Bang, a qual afirma que o universo teve um começo há aproximadamente 14,8 bilhões de anos. Disto resulta que houve um tempo em que não existia nada, nem tempo e nem espaço, que surgiram a partir da explosão Big-Bang que principiou tudo. Ou seja: não existia matéria.
Se não existia matéria, o surgimento do universo jamais poderia ser explicado a partir da matéria. Se você não é um enredado, vai procurar noutra instância a tal explicação. Vai também entender que existem coisas que jamais serão explicadas cientificamente. Isto porque a ciência trabalha com coisas concretas, com fenômenos dentro da existência das coisas. Ela explica como determinado fenômeno acontece. O porquê determinado fenômeno principiou antes de sua condição material para acontecer, foge da alçada da ciência, muito embora os cientistas não se conformem com isso: acreditam que futuramente a ciência terá condição de explicar tudo, como tem explicado muita coisa para a qual não havia explicação num tempo passado.
Reafirmo que a ciência só terá condição de explicar como as coisas acontecem. O porquê de acontecer pertence a outra via de explicação, que até poderá receber algum suporte científico, mas não como fator determinante da explicação. Perguntas como: (Por que o mundo existe?) não oferece qualquer substância apropriada à pesquisa científica e qualquer um que se aventurar a dar tal resposta, está praticando religião ou filosofia, menos ciência.
Isto até pode ser facilmente comprovado, é só ler o livro “Por que o mundo existe?”, de Jim Holt e ver como cada cientista famoso apresenta uma série de maluquices que não têm nada a ver com ciência. Um deles diz até que o universo foi criado por um hacker. Outra pergunta: (Por que surgiu a vida na terra?), cuja resposta os seguidores de Darwin procuram incutir na mente das pessoas que a Teoria da Evolução oferece uma solução definitiva, e isso não tem nada a ver com a verdade.
Digo isto porque essa história de Design Cego é a pior invenção falaciosa da ciência materialista, para justificar o injustificável dogma de que a natureza é cega e desprovida de qualquer propósito dentro dos seus processos evolutivos, como veremos adiante. A começar pelo prefácio de “Deus: Um Delírio”, o Dr. Dawkins demonstra um completo despreparo em incluir os componentes básicos, que são realmente os agentes afetivos formadores da crença e da fé das pessoas, seja na explicação do mundo a partir da matéria; seja na explicação do mundo a partir da ideia.
Em seu delírio ele escreveu logo no prefácio: “Se esse livro funcionar do modo como espero, os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o terminarem”. É pura mágica, não precisa nem ler, basta abrir o livro para se tornar ateu! O Dr. Dawkins imagina que as pessoas são religiosas por falta de lógica; se alguém compreender a “profundidade dos seus argumentos”, terminará ateu igual a ele.
É realmente muita pretensão da parte dele! A lógica é o que menos conta como agente formador da crença e da fé das pessoas. O próprio Dawkins tem demonstrado ser um homem de muita fé, uma vez que a filosofia ateia baseada numa ciência materialista perdeu já a sua razão de ser, desde quando se dividiu o átomo em partículas subatômicas.
A própria crença de que “os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o terminarem”, mostra uma dissonância cognitiva do autor em relação à lógica materialista que o próprio Dawkins defende. Vejamos o porquê dessa afirmação: De acordo com a Filosofia Materialista o ser humano é um epifenômeno da matéria. Ele é um robô inteiramente destituído do poder do livre arbítrio. Seus pensamentos, seus sentimentos e sua vontade são determinados pela interação de forças materiais existente no organismo.
O ser humano é um rio caudaloso de água, sangue, linfas, hormônios, fezes, sais minerais, gorduras, urina etc., daí, os argumentos do Dr. Dawkins, seus pensamentos, suas palavras constituídas de uma lógica puramente mental (epifenômeno) não teriam o poder de fazer com que “os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando terminarem”. Salvo, se admitirmos que o homem tenha capacidade de escolher pelo livre arbítrio, de mudar seus pensamentos, sua fé e suas crenças – acabar de vez com essa invenção de epifenômeno; de que os argumentos epifenomênicos não têm poder sobre nada; de que não podem pensamentos mudar vontade e determinação das pessoas.
Aplicando-se uma lógica mais rigorosa, dentro da filosofia materialista – coisa que muitas vezes falta ao Dr. Dawkins (e nós pretendemos demonstrar isso), por conta do enredamento filosófico em que se meteu. Sendo materialistas, não poderíamos aceitar que uma ideia possa transformar um crente em ateu, a menos que se pudesse admitir que um pensamento (um epifenômeno da matéria) tem poder causativo sobre o homem e, ainda, que esse homem tem poder de livre arbítrio, de abandonar suas crenças para se tornar ateu.
O próprio Dawkins nega isso, quando ele diz: […]“Os pensamentos e as emoções humanas emergem de interconexões incrivelmente complexas de entidades físicas dentro do cérebro”. Resumindo: a explicação materialista parte do princípio material de que os pensamentos, os sentimentos, as crenças, os medos, as manifestações epifenomênicas do homem, resultam única e exclusivamente da sua constituição material, maquinações cerebrais, e não tem poder causativo sobre a matéria, não podem interferir no arbítrio do ser em questão.
O homem materialista é uma máquina sem criatividade, tudo que ele pensa, sente, faz ou deixa de fazer é um produto da sua constituição material, logo, pensamentos, argumentos lógicos (epifenômenos) não teriam poder causativo de transformar crentes em ateus. É na matéria que se busca a explicação para tudo. É contraditório o pensamento de Dawkins achar que não existe livre arbítrio, e ao mesmo tempo, desejar que após a leitura do seu livro, o leitor vire ateu. Se o leitor pode virar ateu, após seus argumentos (epifenômeno sem poder causativo sobre a constituição humana), então existe livre arbítrio, e as ideias têm poder causativo sobre a matéria humana.
Se assim não fosse, ninguém poderia convencer alguém através do raciocínio lógico (considerado epifenômeno pelos materialistas) e, a partir daí, esse alguém exercer o livre arbítrio de tomar um rumo direcional totalmente adverso à sua constituição (considerada material); coisa tão veementemente negada pelos materialistas.
Clamo ao Dr. Dawkins (ou a quem se habilitar a me esclarecer o que segue), pois cabe uma explicação em relação ao ateísmo professado por ele.
Ele é ateu por escolha (houve livre arbítrio?), ou seu ateísmo é consequência da constituição material do seu organismo? Se os pensamentos, os sentimentos (epifenômeno da matéria, sem poder causativo sobre as forças materiais e escolhas humanas) podem convencer uma pessoa a mudar de crente para ateu – sem mudar a constituição material -, então alguma coisa está errada: existe livre arbítrio sim, e o que o materialismo considera epifenômeno têm poder causativo sobre a matéria.
Como biólogo materialista, talvez o Dr. Dawkins pense que o seu ateísmo seja talvez causado por alguma substância a ser sintetizada pela pesquisa científica futura, a qual poderia ser transformada em vacina e aplicada nos seres humanos, com o objetivo de transformar crentes imbecis em ateus inteligentes, como o Dr. Dawkins; – dispensando-o do penoso trabalho de convencimento das pessoas.
Em homenagem ao dr. Dawkins essa vacina poderia ser chamada de Atheosdawkinsnazona, ou outro nome qualquer que o enalteça. Imagine, num tempo futuro, essa notícia bombástica publicado nos jornais e revistas do mundo inteiro: “O Dr. Dawkins e sua equipe de pesquisas biológicas – em seu laboratório de ponta – descobrem a verdadeira substância que transforma “Crentes Imbecis em Ateus Inteligentes.” – Você acredita possível? Continuaria a reportagem: Em sua homenagem a tal substância foi batizada de Atheosdawkinsnazona. Pela aplicação em ratos constatou-se um aumento considerável na inteligência dos roedores e uma abundância de felicidade em professar o ateísmo ratificado. Acredita-se que, no máximo em cinco anos, as populações humanas do mundo inteiro poderão se beneficiar com a tal descoberta, que poderá ser transformada em vacina a ser distribuída e aplicada gratuitamente pelos governantes do mundo inteiro.”
(Manoel Belo – Direitos Autorais registrados)